sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Calor

Procurei-te pelos cantos ocultos da vida porque perdi os valores que prezava e por que me seguia. Os ideais ficaram soltos como grãos de areia numa praia de mar bravio.

Os meus pulmões carregaram-se de um fumo negro como se as minhas justificações me intoxicassem, como se visse a vida a passar-me entre uns dedos enrugados por uma idade que desejei que não fosse a minha.

Procurei o teu calor, o teu conforto e quando olhei já não te encontrei, perdi-te na penumbra da noite algures na escuridão da minha própria alma.

Não pensei que seria indiferente tudo o resto, mas é. O resto não conta enquanto o teu calor for a âncora que necessito para suster a insanidade que me persegue desde o pequeno infante que se escondia nos cantos de uma sala, esperando que a tempestade desse lugar à brisa suave de uns lábios encostados na face, pronunciando palavras de conforto.

És o que desejo, és tudo o que me assusta, és tudo o que desconheço, és tudo o que quis ter enquanto pessoa, és o que me arrisco a perder.

Vontades loucas me levam a agir sem nexo à procura do pretexto da insanidade, à procura de um descontrolo controlado, consolidando desígnios divinos que me empurram para um abismo por onde anseio cair, batalhando diariamente para o evitar.

Sinto-me ir contra a natureza de um corpo e mente que não agem em simetria, anseio por tudo o que vem em frente num futuro que considero mais que incerto, procurando nas estrelas algo escrito que me alumie os pensamentos deturpados por uma dor infinita causada pela incerteza da vida.

Tremo de frio.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Querer-te

Hoje que sopra o vento aos ouvidos, hoje que sinto o calor de uma noite que não quero que termine.

Enrosca o teu corpo no meu, quero sentir o toque da tua pele, não me o negues. Não quero perder essa vida que me alenta o pensamento.

Querer-te significa amar-te, querer-te significa não te ter, e isso arde como um fogo que não consigo extinguir, que não quero que se apague. Deixa-o arder, simplesmente pelo prazer que dá ver a cor das chamas que nos envolvem os corpos como um cobertor numa noite de verão.

Deixa-nos suar com o amor que sentimos, com o amor que fazemos numa praia em que ouvimos o bater nas ondas confundindo o som com o bater dos nossos peitos.

Quero-te tocar onde ninguém mais ousou passar a ponta dos dedos, quero-te tocar na alma, de te sentir como ninguém, quero que venhas comigo onde ninguém ousou ir.

O desejo ficou para trás, é algo mais do que isso é algo mais do que o sentimento obscuro de desejar, é algo mais.

Ter-te significará o fim, o fim de tudo o que seria sano de tudo o que faria sentido, quero-te.

Como uma música que perdura nos ouvidos assim é o teu cheiro, assim é o meu sentir por ti, quero-te pelo sorriso, quero-te pelos cabelos que te caem sobre os ombros e que despertam uma sede de te apertar junto a mim.

Quero que me sintas dentro de ti como alimento que te dá vida, quero que me bebas a alma para que juntos pudéssemos ficar durante esta noite que não quero que acabe.

Assim é querer-te.


terça-feira, 1 de junho de 2010

Antítese

"Detesto este silêncio que me ensurdece"

Abre os olhos

Abre os teus olhos, sonha comigo e prometo não ser em vão.

Abre os teus olhos, liberta-te do pó que te cega e vem comigo, deixa-me levar-te onde nunca foste, deixa-me carregar-te no meu colo enquanto dormes, para depois acordarmos juntos.

Deixa-me ser o teu sonho, nem que seja por uma noite, deixa-me fazer-te perder, nem que seja durante umas horas.

Leva-me contigo a sítios onde só nós conhecemos, onde uma rocha tem o significado de um mundo, onde uma onda significa um oceano.

Deixa-me por uns momentos imaginar que sou teu.

Não percebes que quero estar contigo? Não percebes que me fazes falta?

Que me leves, que seja eu a levar-te, o que quero é estar junto a ti.

Quero perder o meu tempo a ver a água correr debaixo da ponte, quero perder o meu tempo a ouvir o vento sussurrar-me nos ouvidos, quero perder o meu tempo a teu lado. Ser teu.

Quero que os meus anos me pareçam dias com menos horas que o normal, com a lua a despedir-se mais cedo que o habitual e que o sol me sorria ainda de noite, pois contigo o tempo parece que não conta, parece que os anos contam como horas num ritmo que teima em me alucinar de tão rápido se torna.

Queria que os meus lábios te transmitissem a confiança que te falta, que sou teu, que nada me há-de separar do que amo, que nada me fará despedir de quem desejo.

Segura-me nos braços enquanto me perco na imensidão do desejo, enquanto me perco na imensidão que és tu.

Abre os teus olhos e repara no que está ao teu alcance, a vida, um desejo, um beijo, a imensidão do amor.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Pára

Pára de me gritar nuns ouvidos, já de si doridos de uma vida dorida e sem nexo.

Cessa com os pensamentos que me deitam abaixo, com os modos que me levam à loucura, deixa-me gritar a mim desta vez, expulsar demónios que me perseguem sem a piedade que ansiei durante mais tempo que poderia aguentar.

Deixa-me sossegar, olhar apenas para o vento que faz respirar, que me faz desejar ser levado por ele.

Quero me perder numa poeira que me tenta, que supostamente me faria perder uma vida que já de si, tem pouco para dar.

Diz-me que sim de uma vez por todas. Leva-me nos braços e faz-me atravessar o rio que me fará chegar ao vale das sombras inquietas e que ardem num inferno perfurante de dor e ansiedade, desta forma, alguma coisa faria sentido e saberia onde me encontro.

Pára de me tentar levantar quando o que desejo é me consumir no desespero da minha própria visão negra de um mundo que não me atrai, em que a traição não é nada mais que uma miragem que me persegue, e me atormenta como se se tratasse de um gume de um punhal ferrugento que encontrei numa das estradas onde me perdi.

O caminho que escrevia para mim foi corrido com a ansiedade dos ingénuos e encontro-me no seu fim, olho em redor e assusto-me com o que vejo.

Fazes-me parar, repensar tudo de novo e escolher um caminho de luz e clareza, algo raro nos meus dias.

Quero te dizer que pares, quero que me deixes na escuridão que mereço e por que desespero.

Quero te dizer que não me sigas porque não faria mais do que arrastar a luz para a escuridão, fazendo-te extinguir como me extingui a mim próprio.

O meu peito arde porque sinto a tua falta, porque sinto que me salvaste e me voltarias a salvar de novo se assim te o pedisse, deixa-me seguir, deixa-me partir. Não mereço mais do que isso.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Deitei-me a teu lado

Cheguei a teu lado, sorri, sentei-me e falámos de coisas sem nexo como o tempo que nos levava a subir as escadas da vida.

Imaginei que te passava a mão pelo cabelo enquanto olhava nos teus olhos de um castanho profundo e triste.

Disseste-me que te fazia chorar.

Disseste-me que te via a alma, que te dizia o que pensava ao invés dos que te nunca te tentaram compreender.

E enquanto a voz te passava pelos lábios, pensava que um dia poderia ter sido teu, que um dia enquanto te amei, me pudesses ter amado também. Quanto eu o desejei…

Como quis que aquela angústia te passasse, como quis que as águas que passaram por baixo da tua ponte, te tivessem saciado a sede, mas ao invés de uma água doce viste passar o sal emanado das tuas lágrimas.

Não o mereces, não mereces a dor que te faz pensar em algo que não deves, mereces a luz de uma vida que anseias, mereces carregar no teu ventre a felicidade e não a angústia da perda, mereces que os desejos sejam apenas a confirmação da tua felicidade.

Deitei-me a teu lado noites consecutivas, como um ser invisível a teu lado, vi-te dormir e tentei entrar nos teus sonhos, tentei fazer parte deles, nunca soube se o consegui, ao contrário de ti que sempre fizeste parte dos meus.

Sonhos em que nos encontramos ao pé de uma escultura de aço que se enferruja com o passar dos anos, em dias de sol que de repente se transformam em noites de consciência e de paixão, como se ambas fossem compatíveis, um pouco como nós, que nunca o saberemos.

Continuarás sempre a ser aquela rapariga de um mar de paixão em que me naufraguei.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Torres da Paz

Quis um dia eu, ser quem nunca serei, querer quem nunca me quis.

Senti o ardor de um coração despedaçado que me deixou prostrado no chão como um defunto que ali encontraram. Quis o sonho que comanda a vida imaginar-me. um dia, alguém que pudesse compreender o que nunca consegui.

O sonho transformou-se, a realidade parece mais cruel tornando-se em algo mais cru e seco, tornou-se numa vida que desconheço onde acaba.

Não consigo que o barulho de um comboio perdido numa linha que não entra em lado algum e se perde no espaço e no tempo de alguém que não quer que ele avance, não quero que o corte que hoje fiz me faça arrepender do que não fiz.

Quero me enfurecer contigo, quero lançar raios de descontentamento por cada vez que me apareces numa mente, já de si perturbada, pelo barulho de uma chuva que me parece ácida.

Porque me deixas sem ver na floresta, perdido na imensidão da dúvida, porque me deixas tu sem perceber quem realmente és.

Não te sinto, não te anseio por um minuto, no entanto fizeste-me falta por uma vida inteira de ardor, de abismo, como uma pneumonia que me impedia de respirar por não estares a meu lado.

Sopra-me a alma, diz-me que quando chegar a ti, te entregarás a uma evidência que nunca considerei, que sempre me fugiu.

Quero entrar nessas torres da paz em que me abrigarei, em que procurarei pelo abrigo que sempre tive em castelos medonhos e impiedosos, feitos numa madeira rangente e bafienta, retardada como uma foto tirada há décadas.

Sobe a mim, sobe a uma luz que chama por ti, para te fazer voltar à escuridão de uma vida que planeei para nós, sem tu saberes, sem tu imaginares, pois nunca te confidenciei.

Senti que era mais um que conhecias em cada vez que me encontravas. Contornaste-me como um objecto a que somos indiferentes, que nos obriga a mudar a direcção, tornaste-me em algo que te causa angústia.

Deste-me 5 moedas de prata, para que te amasse enquanto que apenas seria necessário um sorriso enquanto te interrompia, nas tuas voltas frenéticas de faíscas e sons que achei estranhos e incompreensíveis,mas que para ti faziam mais sentido que eu.